<
 
 
 
 
×
>
You are viewing an archived web page, collected at the request of United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) using Archive-It. This page was captured on 21:48:44 Jun 10, 2019, and is part of the UNESCO collection. The information on this web page may be out of date. See All versions of this archived page.
Loading media information hide

Building peace in the minds of men and women

Zoom

Na terra dos rios selvagens

cou_01_19_zoom_01_web.jpg

A pesca é uma das principais fontes de subsistência dos aldeões.

Fotos: Protick Sarker

Texto: Katerina Markelova

O fotógrafo bengalês Sarker Protick ainda era um estudante do ensino médio nos anos 2000 quando descobriu o romance Padma River Boatman (O barqueiro do Rio Padma, em tradução livre), de Manik Bandopadhyaya – um clássico da literatura bengalesa do século XX. A relação muito especial entre as pessoas e a água – que traz prosperidade, bem como destruição – descrita no livro, é familiar ao fotógrafo. Nascido na terra dos rios selvagens, Protick, como seus 162 milhões de concidadãos, vive no ritmo das monções – que inundam um terço do país todos os anos, entre maio e setembro.

Essas inundações têm efeitos devastadores, tanto sobre a terra quanto nas pessoas, assim como a erosão do rio, que causa perdas de 1,5 mil a 3,5 mil hectares de terras aráveis a cada ano*. No entanto, são essas mesmas inundações que tornam os campos do Delta do Rio Ganges, que Bangladesh compartilha com a Índia, tão férteis. Compostas por sedimentos transportados pelos 230 rios de Bangladesh, essas terras bem aeradas e irrigadas atraem agricultores a se estabelecerem ao longo das margens dos rios, apesar do risco. “O rei da manhã torna-se o mendigo da noite”, cantam os camponeses que perderam tudo e, ainda assim, retornam à margem dos rios para reconstruir suas vidas.

A incrível capacidade de seu povo de viver nessas terras, que são formadas e destruídas pelas inundações, fascinou Protick quando era um jovem estudante. Tornando-se um fotógrafo profissional alguns anos depois, ele partiu em uma jornada ao longo do majestoso Rio Padma, a partir da fronteira entre Bangladesh e Índia, onde o Ganges indiano se junta ao rio bengalês.

E então, à medida que o dia 3 de novembro de 2011 chegava ao fim, ele testemunhou o abrupto colapso de um trecho da margem do rio, engolido pelas águas. “De repente, eu vi a erosão do rio, sobre a qual eu havia lido na escola, acontecendo brutalmente diante dos meus olhos”, disse Protick. O evento ocorreu na upazila (subdivisão do distrito) de Ishwardi. “Assistir àquelas pessoas perderem as suas casas, suas terras, tudo... e, ao mesmo tempo, vê-las permanecer fortes e otimistas, e ainda seguindo com suas vidas, me tocou profundamente”. O homem de Daca continuou retornando a essa área por sete anos para completar sua série fotográfica Of River and Lost Lands (Do rio e terras perdidas, em tradução livre).

“É a história dos lugares que desapareceram, que foram tomados pelo rio. Eu quis que as imagens transmitissem certa melancolia, uma sensação de perda”, diz Protick, que fotografou Ishwardi apenas sob os céus nebulosos das monções. “A série mostra quão vulneráveis nós seres humanos somos para a natureza. No entanto, também mostra o ciclo de renovação perpétua da vida, que eu estava ansioso para explorar em meu trabalho”. As ilhas efêmeras, chamadas de chars, emergem das águas após cada monção e recebem milhares de pessoas que ficaram sem terras**.

TA adversidade dos elementos, à qual os seres humanos parecem ter se ajustado da melhor maneira possível, está piorando a cada dia devido à mudança climática. Bangladesh, um país predominantemente plano e de baixa altitude, está particularmente exposto ao aumento do nível do mar. A multiplicação e a intensificação dos fenômenos meteorológicos extremos, assim como o crescente degelo das geleiras do Himalaia, onde se originam os rios do Delta, tornam a nação uma das mais vulneráveis do mundo.

O frágil equilíbrio que pode ser observado nas fotografias de Sarker Protick está sendo severamente colocado à prova.

Com esta fotorreportagem, O Correio marca o Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março.

*Em 2017, cerca de 950 mil pessoas foram deslocadas devido aos fenômenos meteorológicos extremos, de acordo com o Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (Internal Displacement Monitoring Centre - IDMC).

**Segundo a revista francesa Hommes & migrations, em 2010, 5 milhões de pessoas viviam nessas ilhas efêmeras.

Site oficial de Protick Sarker.

Pai e filho em uma das ilhas efêmeras, onde a abundância de grama faz com que seja propícia para a produção leiteira.

A jovem Brishty encontra-se sozinha, depois que sua família foi forçada a se mudar devido à erosão do rio.

Shom Nath Kumar deixou permanentemente seu vilarejo depois de perder tudo para o rio.

Na condição de sem-terra, esta família chega do continente para se estabelecer em um reservatório do rio, ou em uma ilha que tenha emergido da água após a monção.

As ilhas efêmeras, ou reservatórios do rio, atraem agricultores apesar de sua imprevisibilidade.

Dois homens avançam cuidadosamente ao longo da margem desmoronada de um rio.

Volta da escola para casa.