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Building peace in the minds of men and women

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Um dia comum na vida de Qello

Qello, que tem 13 anos de idade, apanha lenha da floresta no vilarejo de Dodota Denbel. A segunda de quatro filhos em uma família de agricultores, ela é responsável pela maioria das tarefas domésticas, sobretudo porque sua irmã mais velha, de 19 anos, se casou e teve um bebê.

Fotos: Ignacio Marín

Texto: Katerina Markelova

Se Qello, a heroína deste ensaio fotográfico (produzido em novembro de 2017) vai à escola hoje, é porque ela tem sorte. Apenas 30,4% das meninas etíopes em idade escolar secundária conseguem frequentar a escola (UNESCO Institute for Statistics, 2015).

Qello, que tem 13 anos de idade, já deu o primeiro passo rumo à compreensão de seu direito fundamental à educação – ela não abandonou o ensino primário, tal como 61% das jovens de seu país  (UIS, 2014). Contudo, será ela capaz de ingressar no ensino secundário? Em 2015, apenas 17% das meninas (taxa bruta de matrícula*) ultrapassaram esse nível.

Na Etiópia, apesar de uma relativamente alta taxa de matrículas de meninas na educação primária (82% em 2015), apenas uma entre duas meninas (47%), com idade de 15 a 24 anos, sabe ler, escrever e compreender um texto curto e simples sobre suas vidas cotidianas. Essa é a consequência lógica de uma grave escassez de professores – em 2011, havia um professor para 55 estudantes no nível primário..

Durante sua educação, o irmão mais novo de Qello enfrentará tantos obstáculos quanto ela? Ele terá uma chance ligeiramente melhor de frequentar a escola primária (em 2015, a taxa de matrículas para meninos era de 88,5%) e a escola secundária (31,4% em 2015). Ele provavelmente também passará um ano a mais na escola – em 2012, a expectativa de vida escolar* para os meninos era de 8,9 anos, comparada a 7,9 anos para as meninas.

Embora meninos e meninas tenham acesso praticamente igual à educação obrigatória (dos 7 aos 14 anos), a situação na Etiópia não é muito animadora. Cerca de 2,2 milhões de crianças e 4,6 milhões de adolescentes (2015) não têm instrução nesse país da África Subsaariana, com uma população de 102 milhões.

Atualmente, em todo o mundo, 59 milhões de crianças, ou 9% da população em idade escolar primária, não frequentam a escola. Pouco mais da metade dessas crianças vive na África Subsaariana, uma região com as mais altas taxas de exclusão da educação. Cerca de 17 milhões delas são meninas – 9 milhões de meninas com idades entre 6 e 11 anos nunca frequentarão a escola, contra 6 milhões de meninos (IUS).

A igualdade de gênero é a Meta 1 do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 (Sustainable Development Goal 4), que visa a garantir educação igualitária e de qualidade para todos, bem como promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida até 2030. A UNESCO, como agência especializada das Nações Unidas para a educação, foi encarregada de liderar o Marco de Ação da Educação 2030 (Education 2030 Framework for Action), aprovado em novembro de 2015. A principal responsabilidade pela implementação dessa agenda cabe aos governos, com a UNESCO e seus parceiros fornecendo apoio por meio de orientações sobre a formulação de políticas, assistência técnica, capacitação e acompanhamento de progresso coordenados nos âmbitos mundial, regional e nacional.

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*Taxa bruta de matrícula: quantidade de alunos matriculados em determinado nível de educação, independentemente da idade, expresso como uma porcentagem da população em idade escolar oficial correspondente ao mesmo nível de educação.

*Expectativa de vida escolar: quantidade de anos que uma pessoa provavelmente passará nos sistemas de ensino escolar e universitário.

Ao amanhecer, Qello, que tem 13 anos de idade, apanha lenha da floresta no vilarejo de Dodota Denbel. A segunda de quatro filhos em uma família de agricultores, ela é responsável pela maioria das tarefas domésticas, sobretudo porque sua irmã mais velha, de 19 anos, se casou e teve um bebê. Qello prepara o café logo que volta para casa com a lenha..

Qello dedica alguns minutos a ela própria, ao se limpar pela manhã.

Antes de poder ir à escola, Qello já preparou o café da manhã e limpou a casa. Às vezes ela se atrasa, ou tem de perder uma aula, porque as tarefas domésticas são uma prioridade.

Cinco meninas dividem uma mesa na turma de Qello, na escola pública do vilarejo.

 
“Dois terços das amigas de Qello serão forçadas a se casar ainda jovens. A grande maioria delas abandonará os estudos logo após o seu casamento”, explica Ana Sendagorta, diretora da Fundação Pablo Horstmann.
 
 
Ao retornar da escola, Qello prepara uma refeição para a família. Tradicionalmente, atividades domésticas são vistas como um “treinamento” essencial para as meninas, preparando-as para sua vida futura, como esposas e mães.

Qello aguarda seu pai terminar a refeição antes de lavar a louça.

 
Qello busca água do poço comunitário. Apenas um poço atende a todo o vilarejo; desse modo, muitas vezes ela tem de esperar sua vez por horas na fila.

 

 

A viagem de volta para casa leva ainda mais tempo, uma vez que a carroça de burro está carregada com água. As longas distâncias expõem muitas meninas à violência física ou sexual, mas elas não têm escolha. Suas famílias dependem da água.  

 

 

De volta em casa, é hora de lavar as roupas.

 
 
No final do dia, quanto todas as tarefas estão concluídas, a Qello encontra tempo para fazer seu dever de casa, à luz de uma pequena lamparina.
 

A noite envolve a casa de Qello na escuridão, embora as estrelas iluminem o céu. Amanhã é outro dia.