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Grande Angular

Os Mixtecas: dar atenção à linguagem da natureza

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Detalhe do "Codex Zouche-Nuttall", um livro manscrito pré-colombiano (1200-1521) pintado em pele de veado, que descreve a vida do regente Mixteca Cervo Oito Garra de Jaguar (direita).

O povo Mixteca do México sabe falar a língua da natureza

Aracely Torres Morales

Há tempos que os Mixtecas do México sabem como prever as mudanças no tempo a partir do comportamento dos pássaros e das plantas. Quando ouvem as primeiras notas graves e tristes do pássaro chicucu, por exemplo, eles sabem que se anuncia o final da estação chuvosa. Enquanto o chicucu canta, os agricultores sabem que a estação seca será prolongada e que ainda não chegou a hora de plantar seus feijões e suas abóboras.

Para determinar o momento certo de plantar milho, os agricultores contam com as árvores de zimbro. Se percebem que suas folhas estão começando a se transformar em poeira, significa que a estação chuvosa atrasará, e que, se necessário, eles deverão adiar o plantio até meados de junho, ou até mais tarde.

De fato, nas últimas décadas, a estação chuvosa – que geralmente perdura de maio a agosto na região Mixteca Baixa – tem se tornado cada vez mais tardia. E, muitas vezes, pode-se ouvir os agricultores dizendo, “ndejama cuia chi ini zaza”.

Ndejama significa “mudança”, enquanto cuia tem muitos significados – a expressão pode ser utilizada para designar as mudanças do mês, do ano ou da estação. A expressão ini zaza designa um dos quatro tipos de calor (ini) distintos na língua mixteca: lo’o (leve), keva kandeinio (tolerável), kini (ótimo), zaza (insuportável). A frequência com que agora ouvimos sobre ini zaza – que costumava ser um fenômeno excepcional – vem aumentando. É por isso que os agricultores agora associam essa frase à mudança climática. O que os cientistas atualmente definem como “variabilidade climática”, os Mixtecas sempre chamaram de ndejama cuia.

 

Os Mixtecas estão em sintonia com a natureza há séculos. Hoje, como antigamente, eles interpretam os sinais que a natureza lhes envia para tomar as decisões corretas. Sua língua contém uma grande variedade de informações, que poderiam oferecer soluções para os problemas atuais causados pela mudança climática.

 

Em 2019, o Programa LINKS da UNESCO sobre Sistemas de Conhecimento Locais e Indígenas publicará um glossário de expressões e termos mixtecas relacionados aos fenômenos climáticos na região Mixteca Baixa, para facilitar as discussões entre os especialistas e os detentores de conhecimento tradicional.

Saiba mais

Leia a publicação da UNESCO: Indigenous and Local Knowledge about Pollination, UNESCO, 2015.

Aracely Torres Morales

A linguista mexicana Aracely Torres Morales é filha de palmicultores da região Mixteca Baixa. A mais nova de oito filhos, ela foi a única que conseguiu concluir os estudos. Em 2018, ela fez parte do Programa LINKS da UNESCO sobre Sistemas de Conhecimento Locais e Indígenas , contribuindo com seu conhecimento sobre a língua mixteca e sua relação com o meio ambiente​​​​​.