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04.08.2015 - UNESCO Office in Brasilia

Artigo “A ciência formando cidadãos”, de Ary Mergulhão*

Publicado no Correio Braziliense em 03/08/2015.

Pense na seguinte situação: dois jovens irmãos ganham de presente um carro de brinquedo guiado por controle remoto. Após brincarem por algum tempo, eles se sentam em um canto e começam a desmontá-lo. Qual seria a reação de seus pais – ou de quem deu o presente –, ao perceber que o brinquedo virou um amontoado de peças e engrenagens? Como reagiriam seus professores, se os dois jovens fizessem isso na escola?

O que move um cientista é a busca por respostas. Seus instrumentos de trabalho são a técnica e a metodologia científica, sempre sob o rigor da ética. Em uma palavra, o que motiva o trabalho de um cientista é a curiosidade: a vontade incessante de formular e responder perguntas, para ampliar os limites do conhecimento.

O ser humano nasce assim. Um bebê, seja no colo da mãe ou no berço, procura desvendar os mistérios à sua volta e, constantemente, renova perguntas sobre o mundo que está aprendendo a conhecer. O bebê é um cientista em estado bruto: desde o momento em que abre os olhos, dá início ao seu processo de aprendizagem. A família e a escola deveriam desenvolver essas capacidades natas.

O investimento em educação científica tem um enorme potencial renovador. Quando incentivamos crianças e jovens a adotar a abordagem científica, não estamos apenas melhorando o seu aprendizado. Na realidade, o efeito mais importante é o desenvolvimento das habilidades pessoais, como a capacidade de observação, o registro de ocorrências, a análise crítica e a proposição de ideias e ações. Tais habilidades não são importantes apenas para a educação de cientistas, mas também, e principalmente, para a formação de cidadãos capazes de participar ativamente de discussões e de decisões sobre os rumos da sociedade.

A tecnologia nos coloca em contato com um universo de informações. O diferencial humano, hoje e no futuro, será definido pela capacidade de organização e de utilização dessas informações. O pensamento científico será sempre útil para a formação de cientistas e, especialmente, dos cidadãos. 

Uma sociedade que investe em ciência será sempre melhor. Não somente pela formação de pesquisadores e por todos os ganhos advindos daí, mas, acima de tudo, pelo efeito que o aprendizado do método científico terá, direta e indiretamente, sobre as atuais e as futuras gerações.

No ambiente escolar, a educação científica tem também o poder da renovação. Desafiar alunos é um excelente caminho para envolver, de forma crescente, o jovem nas atividades escolares, estimulando a sua curiosidade e a sua criatividade. Com isso, oportunidades são abertas para jovens de todas as idades desenvolverem o seu potencial para a construção de novos horizontes.

Porém, dificilmente existem alunos motivados em ambientes sem professores estimulados e proativos. O desafio de atrair e manter jovens conectados com a escola está nas mãos de professores que se desdobram para aperfeiçoar suas aulas. O método científico é um grande aliado do professor para essa finalidade. Exerce, ainda, um papel fundamental a favor desse círculo virtuoso o desenvolvimento de projetos sobre problemas reais, de preferência que tenham relação direta com o local onde o aluno habita, assim como a participação em feiras de ciências e olimpíadas do conhecimento. Sem falar nas parcerias das escolas com universidades, museus, zoológicos e jardins botânicos.

O conhecimento é dinâmico. Seu processo de absorção deve seguir esse princípio em estreita relação com os valores éticos. Não existe nada mais dinâmico, faminto e criativo do que a mente de um jovem. A combinação dessas características é beneficamente explosiva para a formação de um cidadão.

Com relação à nossa pergunta inicial, pense um pouco mais antes de repreender uma jovem ou um jovem que questiona ou desmonta alguma coisa. A escola e a família devem sempre estimular e apoiar o desenvolvimento do potencial da nossa juventude. Mesmo se aquele carro por controle remoto – agora um amontoado de peças – tiver sido um presente seu, aproveite essa valiosa oportunidade para orientar um futuro cientista e um futuro cidadão, mais conscientes do seu papel na sociedade e no mundo.

* Ary Mergulhão, coordenador de Ciências Naturais da UNESCO no Brasil 




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