<
 
 
 
 
×
>
You are viewing an archived web page, collected at the request of United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) using Archive-It. This page was captured on 18:11:53 Mar 15, 2022, and is part of the UNESCO collection. The information on this web page may be out of date. See All versions of this archived page.
Loading media information hide
Idea

Grandes símios e a COVID-19, um risco a mais para espécies já ameaçadas de extinção?

01/04/2020
15 - Life on Land

Devido à destruição de seu habitat natural e a cada vez mais contatos com atividades humanas, os grandes símios, ou macacos, dos quais sete espécies já estão ameaçadas de extinção, são potencialmente vulneráveis a esse novo vírus.

Dentre as novas doenças infecciosas, 75% são zoonoses, isto é, são transmitidas de animais para os seres humanos. A origem do SARS-Cov-2, que atualmente está se espalhando por todo o planeta, não é conhecida. No entanto, estudos iniciais indicam que o coronavírus, presente em morcegos, possui um genoma 96% idêntico ao do SARS-Cov-2. No entanto, o coronavírus originário do morcego não é capaz de se ligar a receptores nas células humanas e, por isso, é necessária uma mistura com um coronavírus de outro animal selvagem para que ocorra a transmissão aos seres humanos. Acredita-se que o pangolim, uma das espécies mais ameaçadas em todo o mundo, seja esse hospedeiro intermediário. Esses animais são caçados ilegalmente por sua carne, considerada um prato de luxo, e suas escamas são usadas na medicina tradicional asiática.

O surgimento dessas novas doenças infecciosas pode estar ligado a vários fatores: a destruição de habitats naturais convertidos em áreas usadas para atividades humanas, que leva a uma aproximação geográfica entre seres humanos e animais selvagens; por outro lado, as condições extremas de aglomeração nos mercados de animais vivos entre espécies que geralmente não se misturam.

Os grandes símios (duas espécies de chimpanzés, três espécies de orangotangos e duas espécies de gorilas) são os nossos primos mais próximos no reino animal. Como nós, eles podem contrair doenças altamente infecciosas. Por exemplo, na década de 2000, gorilas e chimpanzés morreram pelo vírus ebola; em algumas áreas, até 95% dos gorilas foram dizimados por essa doença. Hoje, com o SARS-Cov-2 se espalhando pelo mundo, todos os olhos também estão voltados para os grandes símios. 

Embora ainda não se saiba se os grandes macacos podem contrair esse tipo de coronavírus, o OC43, há alguns anos, um tipo de coronavírus transmitido por humanos foi detectado em chimpanzés na Costa do Marfim. Aqui, novamente, deve-se notar que a proximidade entre populações humanas e animais, principalmente devido à destruição do habitat natural dos grandes símios, aumenta o risco de zoonoses, enquanto, às vezes, as atividades humanas causam patologias nos chimpanzés. 

Os grandes símios, com sete espécies já ameaçadas de extinção, são potencialmente vulneráveis a esse novo vírus. A UNESCO, por meio de sua Rede de Reservas da Biosfera, que são grandes habitats dos macacos, está trabalhando em estreita colaboração com os administradores desses locais para monitorar a situação. Hoje, a maioria dos sítios de visitas turísticas a gorilas e chimpanzés está fechada. Da mesma forma, na Reserva da Biosfera Gombe Masito Ugalla, na Tanzânia, o Instituto Jane Goodall estabeleceu protocolos de segurança para a proteção dos chimpanzés. 

Sabrina Krief, uma veterinária e primatologista francesa especializada em ecologia comportamental e zoofarmacognosia (a química de substâncias naturais consumidas) de chimpanzés, fala sobre os problemas relacionados à promiscuidade entre humanos e chimpanzés (veja abaixo). Professora do Museu Nacional de História Natural, Sabrina é diretora do Projeto Sebitoli Chimpanzee no Parque Nacional Kibale, em Uganda. Ela adotou medidas preventivas diante da epidemia de COVID-19.

A proximidade geográfica entre os chimpanzés e os seres humanos, causada pela invasão da agricultura intensiva em seu habitat florestal, cria riscos à saúde dos primeiros. O território dos chimpanzés de Sebitoli, que estudamos desde 2008, está localizado no Parque Nacional Kibale, em Uganda. Ele é cercado por áreas agrícolas e é atravessado por uma estrada de asfalto com tráfego intenso. Existem riscos diretos para a vida dos animais (colisão, caça ilegal), além de ameaças indiretas. Assim, eles são expostos à poluição por produtos fitossanitários (fertilizantes, pesticidas ...), fumaça de escapamentos, poluição plástica ligada aos resíduos jogados ao longo da estrada, e também a doenças. Quando as colheitas estão maduras, os humanos que cuidam dos campos e os chimpanzés que saem da floresta para se alimentar usam os mesmos espaços, ao mesmo tempo, o que favorece a transmissão cruzada de patógenos entre as duas espécies. Da mesma forma, as frutas jogadas pelos viajantes para os babuínos e as garrafas de refrigerante espalhadas pela floresta que contêm saliva humana expõem os chimpanzés a patógenos humanos. No contexto atual da pandemia da COVID-19, é essencial reduzir os riscos associados à proximidade com seres humanos, com a aplicação de medidas muito rigorosas por parte das equipes de pesquisa, mas, apesar disso, é muito difícil controlar a proporção de risco associada à proximidade do habitat com áreas agrícolas e estradas. São necessárias ações urgentes para reduzir as ameaças gerais aos grandes símios, se quisermos evitar a perda de nossos parentes mais próximos e de seus habitats vitais para o planeta.

Sabrina Krief, veterinária e primatologista francesa

A UNESCO está em contato com os 19 administradores das Reservas da Biosfera da África, sobretudo para acompanhar a situação. Com o apoio de Sabrina Krief, serão realizadas reuniões online para discutir com eles os riscos de transmissão de doenças entre os grandes macacos e humanos; como se proteger contra isso em termos de medidas de proteção e monitoramento ecológico do habitat; além de como reconhecer os primeiros sinais e incentivar trocas de experiências.

Os grandes símios representam uma parte importante da biomassa frugívora (dos animais que se alimentam de frutas) das florestas tropicais da África e do Sudeste Asiático. Eles participam da disseminação de sementes e, portanto, da regeneração das florestas. Proteger os grandes símios significa proteger as florestas tropicais e as centenas de espécies vegetais e animais que compartilham seu habitat; as florestas também são essenciais para combater a mudança climática e manter uma infinidade de serviços ecossistêmicos. 

A UNESCO e seus parceiros têm um forte compromisso quanto à proteção dos grandes símios e de seus habitats.

Saiba mais com a brochura (em inglês): "Great Apes and their Habitats"

Contato:

Créditos das fotos:

  • © Getty Images, Gary Sandy Wales
  • © Jean Michel Krief