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Em momentos de crise, as pessoas precisam de cultura

29/03/2020
11 - Sustainable Cities and Communities

Como é de costume em épocas de crise, a COVID-19 evidenciou a necessidade da existência da cultura para o aliviar o estresse de pessoas e comunidades. Em um momento no qual bilhões de pessoas estão fisicamente separadas umas das outras, a cultura nos une. Ela proporciona conforto, inspiração e esperança em um momento de enorme ansiedade e incerteza. No entanto, mesmo quando confiamos na cultura para superar essa crise, ela também está sofrendo. Muitos artistas e criadores, especialmente aqueles que trabalham de maneira informal ou precária, como na chamada “gig economy”, são agora incapazes de sobreviver e tampouco de produzir novas obras de arte. Instituições culturais, grandes e pequenas, estão perdendo milhões em receita a cada dia que passa. Enquanto o mundo trabalha para enfrentar o perigo imediato da COVID-19, nós também precisamos implementar medidas para apoiar os artistas e o acesso à cultura, tanto no curto quanto no longo prazo.

Por Ernesto Ottone, diretor-geral adjunto de Cultura da UNESCO

Cultura, bem comum para sociedades resilientes

Atualmente, estamos enfrentando uma crise mundial diferente de qualquer outra que vimos neste século. Milhares de pessoas perderam suas vidas devido à COVID-19, e muitas outras têm sido infectadas. Em todo o mundo, bilhões de pessoas estão agora isoladas em suas casas. Aqueles que não podem trabalhar de casa – por exemplo, médicos, enfermeiros, pessoal de serviços emergenciais, pessoas que trabalham em serviços essenciais como supermercados e farmácias, além de trabalhadores sanitários, entre outros – estão colocando suas vidas em risco todos os dias para nos manter seguros e saudáveis. Os sistemas de saúde, mesmo em países de renda mais elevada, estão sob pressão por causa dessa pandemia mundial. Econômica, social e psicologicamente, o impacto da COVID-19 provavelmente será sentido muito tempo após o término desta crise sanitária.

Como é de costume em épocas de crise, a COVID-19 evidenciou a necessidade da existência da cultura para aliviar o estresse de pessoas e comunidades. Nas redes sociais, temos visto vídeos inspiradores de artistas e músicos mundialmente famosos se apresentando de graça para seus vizinhos, bem como para milhões de pessoas online. Muitos estão usando seus talentos artísticos para disseminar informações importantes sobre a COVID-19, como a maneira adequada de lavar as mãos e a necessidade do distanciamento social. Temos visto comunidades inteiras, isoladas em suas casas e apartamentos, se unirem para cantar, tocar música, dançar ou até mesmo projetar filmes de suas janelas e sacadas. Os museus, as casas de ópera, os teatros e outras instituições culturais, agora fechados para o público, generosamente abriram suas portas online para oferecer visitas virtuais a suas coleções e apresentações ao vivo gratuitas. As bibliotecas, incluindo as filmotecas, também abriram suas coleções digitais para o público. A UNESCO está encorajando os sítios do Patrimônio Mundial a seguirem o exemplo, e as plataformas da Organização, como a World Heritage Journeys in Europe já oferecem um meio para as pessoas explorarem o Patrimônio Mundial a partir de suas casas. 

Em uma época em que bilhões de pessoas estão separadas fisicamente umas das outras, a cultura tem nos unido, mantendo-nos ligados e diminuindo a distância entre nós. Ela tem fornecido conforto, inspiração e esperança em um momento de enorme ansiedade e incerteza.

Em uma época em que bilhões de pessoas estão separadas fisicamente umas das outras, a cultura tem nos unido, mantendo-nos ligados e diminuindo a distância entre nós. Ela tem fornecido conforto, inspiração e esperança em um momento de enorme ansiedade e incerteza.

Ernesto Ottone, diretor-geral adjunto de Cultura da UNESCO

A cultura também está em crise

Ainda assim, mesmo contando com a cultura para superar esta crise, nós não podemos esquecer que a cultura também está sofrendo. Muitos artistas e criadores, especialmente aqueles que trabalham de maneira informal ou precária, como na chamada “gig economy”, são agora incapazes de sobreviver e tampouco de produzir novas obras de arte. As instituições culturais, grandes e pequenas, estão perdendo milhões em receita a cada dia que passa. Atualmente, muitos bens do Patrimônio Mundial estão fechados, o que também provoca um impacto social e econômico nas comunidades que vivem nesses locais. A COVID-19 suspendeu muitas práticas do patrimônio cultural imaterial, incluindo rituais e cerimônias, religiosas e não religiosas, com consequências significativas para a vida social e cultural das comunidades em todos os lugares. Como demonstrou o recente terremoto em Zagreb, o patrimônio cultural continua sendo vulnerável a desastres naturais e a outras ameaças, e a COVID-19 dificulta ainda mais os esforços de resposta a emergências.

Além disso, para milhões de pessoas em todo o mundo, o acesso à cultura por meios digitais continua fora de alcance. De acordo com a União Internacional de Telecomunicações das Nações Unidas (UIT), 86% da população de países desenvolvidos usam a internet, o que ocorre com apenas 47% da população de países em desenvolvimento. A Comissão de Banda Larga para o Desenvolvimento Sustentável estabelecida pela UIT e pela UNESCO, especifica em seu relatório "State of Broadband 2019"  que um total de 43,5% das pessoas que responderam à pesquisa em países de baixa renda disseram que a conectividade ruim é um dos obstáculos quando usam a internet, comparado com apenas 34,6% das pessoas de países de renda média alta e 25% de países de renda alta. Também continua a existir uma importante disparidade de gênero em termos de acesso à internet. De acordo com a  OCDE, 27 milhões a menos de mulheres do que homens possuem um smartphone e podem ter acesso à internet móvel. A publicação da UNESCO de 2019, "I'd Blush If I Could", produzida sob os auspícios da Equals Global Partnership, mostra que as mulheres têm hoje uma probabilidade quatro vezes menor do que os homens de serem alfabetizadas digitais, ou seja, de saberem usar as tecnologias digitais..

© Graham Denholm/Getty Images for Herbie Hancock Institute of Jazz

Precisamos de um esforço combinado e mundial para apoiar artistas e garantir o acesso à cultura para todos.

Ernesto Ottone, diretor-geral adjunto de Cultura da UNESCO

Tome medidas para apoiar artistas e aumentar o acesso à cultura

Enquanto o mundo trabalha para enfrentar o perigo imediato da COVID-19, nós também precisamos implementar medidas para apoiar os artistas e o acesso à cultura, tanto no curto quanto no longo prazo.

Precisamos trabalhar para garantir que a cultura seja acessível a todos e para que toda a diversidade das expressões culturais da humanidade possa florescer, tanto online quanto offline. Para garantir que a cultura seja acessível a comunidades sem acesso à internet, incluindo povos indígenas, será necessário adotar ferramentas analógicas, como as rádios comunitárias. Precisamos incentivar os países a garantir que os artistas possam ter acesso aos mercados globais e que sejam bem remunerados pelo seu trabalho. Com um quinto dos empregados em atividades culturais trabalhando em regime de meio período e, muitas vezes, de forma contratual, autônoma ou intermitente, nós precisamos repensar as estruturas de trabalho e proteção social em torno dos artistas, para levar em consideração as formas originais por meio das quais os artistas trabalham. Em todos os momentos, incluindo crises como esta, precisamos garantir que os direitos econômicos, sociais e humanos de artistas e criadores sejam respeitados. Isso inclui o seu direito à liberdade de expressão e a proteção contra a censura.

A UNESCO tem cumprido sua missão de promover o acesso à cultura durante este período de autoisolamento e confinamento. Nós lançamos a campanha de mídia social #ShareCulture (#CompartilheCultura) e incentivamos as pessoas ao redor do mundo a compartilharem online sua cultura e criatividade com os outros. Também estamos trabalhando para intensificar nossos esforços contínuos para aumentar o acesso à cultura e apoiar a proteção de artistas, a fim de abordar as causas da crise atual enfrentada pela cultura.

Agora, mais do que nunca, as pessoas precisam de cultura. A cultura nos torna resilientes. Ela nos dá esperança. Ela nos lembra de que não estamos sozinhos. É por isso que a UNESCO fará todo o possível para apoiar a cultura, para salvaguardar o nosso patrimônio e para capacitar artistas e criadores, agora e após a crise. Esperamos que você se junte a nós nesse esforço, apoiando a cultura em sua própria comunidade, da maneira que puder.

Ernesto Ottone
Assistant Director General for Culture