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Patrimônio Mundial no Brasil

A UNESCO se propõe a promover a identificação, a proteção e a preservação do patrimônio cultural e natural de todo o mundo, considerado especialmente valioso para a humanidade. As relações com a salvaguarda do patrimônio cultural tangível e intangível no Brasil podem ser as principais referências para as políticas nesse campo.

Patrimônio Cultural e Natural no Brasil

O patrimônio cultural é de fundamental importância para a memória, a identidade e a criatividade dos povos e a riqueza das culturas.

O Patrimônio Cultural Mundial é composto por monumentos, grupos de edifícios ou sítios que tenham um excepcional e universal valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico.

O Patrimônio Natural Mundial significa as formações físicas, biológicas e geológicas excepcionais, habitats de espécies animais e vegetais ameaçadas e áreas que tenham valor científico, de conservação ou estético excepcional e universal.

Nesse sentido, a UNESCO trabalha impulsionada pela Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural (1972), que reconhece que alguns lugares na Terra são de "valor universal excepcional", e devem fazer parte do patrimônio comum da humanidade.

O trabalho do Patrimônio Mundial no Brasil tem significado frutíferas colaborações com os governos em âmbito federal, estaduais e municipais e também com a sociedade civil. Atualmente, o país conta com 22 bens inscritos na lista do Patrimônio Mundial, pelo seu valor excepcional e universal para a cultura da humanidade. Dos 22 sítios do Patrimônio Mundial no Brasil, 14 são culturais, um misto (Paraty) e sete naturais.

Entre as principais atividades da UNESCO no Brasil, destaca-se a implementação da Convenção do Patrimônio Mundial, à qual o Brasil aderiu em setembro de 1977. 

A fim de assegurar o alcance dos objetivos da Convenção do Patrimônio Mundial, a Representação da UNESCO no Brasil mantém estreita relação com o World Heritage Centre [Centro do Patrimônio Mundial da UNESCO] - visando a implementação de ações de cooperação técnica com as diversas Administrações dos sítios brasileiros "Patrimônio da Humanidade".

Sítios do Patrimônio Mundial Cultural no Brasil

 

1980 - A Cidade Histórica de Ouro Preto, Minas Gerais

Fundada no final do século XVII, Ouro Preto foi o ponto central da corrida do ouro dos anos áureos da mineração no Brasil, no século XVIII. Com o esgotamento das minas de ouro, no século XIX, a influência da cidade diminuiu, mas muitas igrejas, pontes e chafarizes permanecem como testemunhos de seu passado de prosperidade e do excepcional talento do escultor barroco Aleijadinho.

1982 - O Centro Histórico de Olinda, Pernambuco

Fundada pelos portugueses no século XVI, a cidade  tem uma história ligada à produção de açúcar. Reconstruída após ser saqueada por holandeses, seu tecido urbano central data do século XVIII. O equilíbrio harmonioso entre construções, jardins, 20 igrejas barrocas, conventos e numerosos pequenos passos (capelas) contribui para o charme particular de Olinda.

1983 - As Missões Jesuíticas Guarani, Ruínas de São Miguel das Missões, Rio Grande de Sul e Argentina

As ruínas de São Miguel das Missões, no Brasil, e as de San Ignacio Miní, Santa Ana, Nuestra Señhora de Loreto e Santa María la Mayor, na Argentina, situam-se no coração dos pampas, vegetação típica do sul do continente americano . Essas ruínas são remanescências impressionantes de cinco missões jesuíticas, construídas em território habitado pelos guaranis durante os séculos XVII e XVIII.

1985 - O Centro Histórico de Salvador, Bahia

Como primeira capital do Brasil, entre 1549 e 1763, Salvador da Bahia testemunhou a mistura das culturas europeias, africanas e ameríndias.  A cidade se tornou o primeiro mercado de escravos do Novo Mundo, com escravizados  que chegavam para trabalhar nas plantações de açúcar. Salvador tem sido capaz de preservar muitos edifícios renascentistas excepcionais, com casas de cores intensas, decoradas com finos trabalhos de estuque.

1985 - O Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, Minas Gerais

Este santuário, localizado em Congonhas, foi construído a partir da segunda metade do século XVIII. É formado por uma igreja, cujo interior é decorado em magnífico estilo rococó, de inspiração italiana; por uma escadaria externa decorada com estátuas dos Doze Profetas; e por seis capelas (passos) que representam as Estações da Cruz, que abrigam esculturas policrômicas de Aleijadinho, obras-primas da arte barroca.

1987 - O Plano Piloto de Brasília, Distrito Federal

Brasília, a capital construída a partir do zero no centro do país, entre 1956 e 1960, foi um marco na história do planejamento urbano. O urbanista Lúcio Costa e o arquiteto Oscar Niemeyer pretendiam que cada elemento à simetria dos próprios edifícios – estivesse em harmonia com o design geral da cidade. Os edifícios oficiais são especialmente inovadores e criativos.

1991 - O Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, Piauí

Muitos dos numerosos abrigos rochosos no Parque Nacional da Serra da Capivara são decorados com pinturas rupestres, algumas com mais de 25 mil anos. Esse conjunto é um expressivo testemunho de uma das ocupações humanas mais antigas da América Latina.

1997 - O Centro Histórico de São Luís do Maranhão

O centro histórico de São Luís – cidade fundada pelos franceses e ocupada pelos holandeses antes do domínio português – data do final do século XVII e preservou completamente o planejamento original, com ruas organizadas de maneira retangular. Graças a um período de estagnação econômica no início do século XX, um número excepcional de edifícios históricos foi conservado, um extraordinário exemplo de uma cidade colonial das nações ibéricas.

1999 - Centro Histórico da Cidade de Diamantina, Minas Gerais

Diamantina, uma cidade colonial encravada como uma joia em um colar de montanhas rochosas inóspitas, relembra a façanha dos garimpeiros de diamantes do século XVIII e testemunha o triunfo do esforço cultural e artístico dos sores humanos sobre o meio ambiente.

2001 - Centro Histórico da Cidade de Goiás

Cidade de Goiás testemunha a ocupação e a colonização das terras do Brasil central ao longo dos séculos XVIII e XIX. O traçado urbano é um exemplo do desenvolvimento orgânico de uma cidade mineradora, adaptada às condições da região. Ainda que modestas, tanto a arquitetura pública quanto a arquitetura privada formam um todo harmonioso, graças ao uso coerente de materiais e técnicas locais.

2010 - Praça de São Francisco, na cidade de São Cristóvão, Sergipe

A Praça de São Francisco, na cidade de São Cristóvão, é um quadrilátero a céu aberto, cercado por construções antigas muito relevantes, como a Igreja e o Convento de São Francisco, a Igreja e a Santa Casa de Misericórdia, o Palácio Provincial e edifícios associados de diferentes períodos históricos dos séculos XVIII e XIX, que propiciam uma paisagem urbana que reflete a história da cidade desde sua origem. 

2012 - Rio de Janeiro, paisagens cariocas entre a montanha e o mar

O sítio do Rio de Janeiro consiste em um excepcional cenário urbano que compreende também os elementos naturais fundamentais que moldaram e inspiraram o desenvolvimento da cidade: desde as montanhas do Parque Nacional da Tijuca até o mar, incluindo o Jardim Botânico, (1808); as Montanhas do Corcovado, com a estátua do Cristo Redentor; e os morros ao redor da Baía de Guanabara, que incluem as amplas paisagens ao longo da Praia de Copacabana. 

2016 - Conjunto Moderno da Pampulha

O Conjunto Moderno da Pampulha foi o centro de um projeto visionário de uma cidade jardim criado em 1940 em Belo Horizonte, a capital do Estado de Minas Gerais. Esse valioso monumento brasileiro é fruto da saga administrativa e do espirito visionário do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitscheck. Construído entre 1942 e 1943, o projeto original foi desenvolvido pelo arquiteto Oscar Niemeyer e o paisagista Roberto Burle Marx, em colaboração com outros grandes artistas e profissionais, entre eles, o pintor Cândido Portinari.

2017 - Sítio Arqueológico Cais do Valongo

O Sítio Arqueológico Cais do Valongo é localizado no centro do Rio de Janeiro, na antiga área portuária do Rio de Janeiro, e abrange toda a Praça do Jornal do Comércio. O antigo cais de pedra foi construído para o desembarque de africanos escravizados atingindo o continente sul-americano a partir de 1811. Cerca de 900 mil africanos chegaram à América do Sul pelo Cais do Valongo.

O sítio físico é composto por várias camadas arqueológicas, sendo a mais baixa composta do calçamento no estilo pé de moleque, característico do Cais do Valongo. É o traço físico mais importante da chegada de escravos africanos no continente americano.

O Cais do Valongo é um exemplo de sítio histórico sensível, que desperta a memória de eventos traumáticos e dolorosos e que lida com a história de violação de direitos humanos. Portanto, o Cais do Valongo materializa memórias que remetem a aspectos de dor e sobrevivência na história dos antepassados dos afrodescendentes, que hoje totalizam mais da metade da população brasileira e marcam as sociedades de outros países do continente americano.

2019 - Paraty e Ilha Grande - Cultura e Diversidade

O sítio de Paraty e Ilha Grande apresenta valor universal excepcional por suas características naturais e culturais, assim como a interação entre elas. A sua área de abrangência envolve porções territoriais de oito municípios dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, sendo que a maior parte da área núcleo está em Paraty e Angra dos Reis.

Localizada entre a Serra da Bocaina e o Oceano Atlântico, essa paisagem cultural inclui o centro histórico de Paraty, uma das cidades costeiras mais bem preservadas do Brasil, além de quatro áreas naturais protegidas da Mata Atlântica brasileira, um dos cinco principais focos de biodiversidade do mundo. Paraty é o lar de uma diversidade impressionante de espécies, algumas das quais estão ameaçadas, como a onça-pintada (Panthera onca), o queixada (Tayassu pecari) e várias espécies de primatas, incluindo o macaco-aranha (Brachyteles arachnoides), que são emblemáticas desse sítio do Patrimônio Mundial. No final do século XVII, Paraty foi o ponto final do Caminho do Ouro, a rota de envio do ouro para a Europa. Seu porto também serviu como ponto de entrada de ferramentas e escravos africanos trazidos para trabalhar nas minas. Um sistema de defesa foi construído para proteger a riqueza do porto e da cidade. O centro histórico de Paraty manteve seu projeto urbanístico do século XVIII e grande parte de sua arquitetura colonial, que data do século XVIII e início do século XIX.

2021 - Sítio Roberto Burle Marx

Situado a oeste do Rio de Janeiro, o local incorpora um projeto de sucesso desenvolvido ao longo de mais de 40 anos pelo arquiteto, paisagista e artista Roberto Burle Marx (1909-1994) para criar uma “obra de arte viva” e um “laboratório paisagístico”, usando plantas nativas e com base em ideias modernistas. Iniciado em 1949, o Sítio apresenta as características principais que definiram os jardins paisagísticos de Burle Marx e influenciaram o desenvolvimento de jardins modernos internacionalmente.

O jardim é caracterizado por formas sinuosas, plantio em massa exuberante, arranjos arquitetônicos de plantas, contrastes dramáticos de cores, uso de plantas tropicais e a incorporação de elementos da cultura popular tradicional. No final da década de 1960, o local abrigava a coleção mais representativa de plantas brasileiras, ao lado de outras espécies tropicais raras. No local, 3.500 espécies cultivadas da flora tropical e subtropical crescem em harmonia com a vegetação nativa da região, notadamente manguezais, restinga (um tipo distinto de floresta tropical úmida costeira e subtropical) e a Mata Atlântica. O Sítio Roberto Burle Marx apresenta uma concepção ecológica da forma como um processo, incluindo a colaboração social que é a base da preservação ambiental e cultural. É o primeiro jardim tropical moderno a ser inscrito na Lista do Patrimônio Mundial. 

Saiba mais:

World Heritage List

Patrimônio Cultural Imaterial

O Patrimônio Cultural Imaterial ou Intangível compreende as expressões de vida e tradições que comunidades, grupos e indivíduos em todas as partes do mundo recebem de seus ancestrais e passam seus conhecimentos a seus descendentes.

O Patrimônio Cultural Imaterial não se constitui apenas de aspectos físicos da cultura. Há muito mais, contido nas tradições, no folclore, nos saberes, nas línguas, nas festas e em diversos outros aspectos e manifestações, transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao longo do tempo.

Apesar de tentar manter um senso de identidade e continuidade, este patrimônio é particularmente vulnerável uma vez que está em constante mutação e multiplicação de seus portadores. Por esta razão, a comunidade internacional adotou a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial em 2003. Essa convenção regula o tema do patrimônio cultural imaterial e, assim, complementa a Convenção do Patrimônio Mundial, de 1972, que cuida dos bens tangíveis, de modo a contemplar toda a herança cultural da humanidade.

É amplamente reconhecida a importância de promover e proteger a memória e as manifestações culturais representadas, em todo o mundo, por monumentos, sítios históricos e paisagens culturais.

Para muitas pessoas, especialmente as minorias étnicas e os povos indígenas, o patrimônio imaterial é uma fonte de identidade e carrega a sua própria história. A filosofia, os valores e formas de pensar refletidos nas línguas, tradições orais e diversas manifestações culturais constituem o fundamento da vida comunitária. Num mundo de crescentes interações globais, a revitalização de culturas tradicionais e populares assegura a sobrevivência da diversidade de culturas dentro de cada comunidade, contribuindo para o alcance de um mundo plural.

Ciente da importância dessa forma de patrimônio e da complexidade envolvida na definição dos seus limites e de sua proteção, a UNESCO vem, nos últimos 20 anos, se esforçando para criar e consolidar instrumentos e mecanismos que conduzam ao seu reconhecimento e defesa. Em 1989, a Organização estabeleceu a Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular e vem, desde então, estimulando a sua aplicação ao redor do mundo. Esse instrumento legal fornece elementos para a identificação, a preservação e a continuidade dessa forma de patrimônio, assim como de sua disseminação.

De modo a estimular os governos, ONGs e as próprias comunidades locais a reconhecer, valorizar, identificar e preservar o seu patrimônio cultural imaterial, a UNESCO criou um título internacional, concedido a destacados espaços (locais onde são regularmente produzidas expressões culturais) e manifestações da cultura tradicional e popular. Assim, em 2003 e 2005, a Proclamação das Obras-Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade selecionou, por meio de um júri internacional, espaços e expressões de excepcional importância, dentre candidaturas oferecidas pelos países.

Além das gravações, registros e arquivos, a UNESCO considera que uma das formas mais eficazes de preservar o patrimônio imaterial é garantir que os portadores desse patrimônio possam continuar produzindo-o e transmitindo-o. Assim, a Organização estimula os países a criarem um sistema permanente de identificação de pessoas (artistas, artesãos etc.) que encarnam, no grau máximo, as habilidades e técnicas necessárias para a manifestação de certos aspectos da vida cultural de um povo e a manutenção de seu patrimônio cultural material.

Elementos do Brasil inscritos nas Listas do Patrimônio Cultural Imaterial

2008 - As expressões orais e gráficas dos Wajapis

Os Wajapis, que pertencem ao grupo etnolinguístico tupi-guarani, são uma população indígena do norte da Amazônia. Os 580 membros que atualmente compõem essa comunidade vivem em cerca de 40 aldeias, agrupadas em um território protegido do Estado do Amapá, ao noroeste da região norte do Brasil. Os Wajapis têm uma tradição ancestral que consiste em utilizar tinturas vegetais para adornar, com motivos geométricos, seus corpos e outros objetos.

Com o passar dos séculos, eles desenvolveram uma linguagem única, uma combinação de arte gráfica e verbal, que reflete sua visão particular do mundo e pela qual transmitem os conhecimentos essenciais da vida da comunidade.

Os motivos desta arte gráfica única, chamada kusiwa, são realizados com tinturas vegetais vermelhas, extraídas de uma planta amazônica, a bija, misturada com resinas perfumadas. A arte kusiwa é tão complexa que os wajapis consideram não ser possível alcançar as competências técnicas e artísticas necessárias para dominar a arte do desenho e da preparação das tinturas antes dos 40 anos de idade. Os motivos mais recorrentes são a onça pintada, a cobra, a borboleta e o peixe.

Os desenhos kusiwas se referem à criação da humanidade e dão vida aos numerosos mitos sobre o surgimento do homem. Esse grafismo corporal, vinculado às antigas tradições orais ameríndias, apresenta vários sentidos em diferentes níveis sociológicos, culturais, estéticos, religiosos e metafísicos. Assim, a arte kusiwa constitui a estrutura genuína da sociedade wajapi, e sua significação vai muito além de sua mera dimensão artística.

Esse repertório codificado de conhecimentos tradicionais evolui de forma permanente, uma vez que os artistas indígenas renovam constantemente seus motivos, mediante reinterpretações e invenções.

2008 - Samba de Roda do Recôncavo Baiano

O Samba de Roda é um acontecimento popular festivo que combina música, dança e poesia. Surgiu no século XVII, na região do Recôncavo no Estado da Bahia, e vem das danças e tradições culturais dos escravos africanos da região. Além disso, contém elementos da cultura portuguesa, como a língua, a poesia e alguns instrumentos musicais.

No princípio, era o principal componente da cultura regional popular entre os brasileiros de origem africana, mas logo o Samba de Roda foi adotado pelos migrantes procedentes do Rio de Janeiro e influenciou a evolução do samba urbano, que se converteu em símbolo da identidade nacional brasileira no século XX.

A dança congrega pessoas em ocasiões específicas, como as festas católicas populares e os cultos afro-brasileiros, mas às vezes também surge de forma espontânea. Todos os presentes, incluindo os principiantes, são convidados a participar da dança e a aprender por observação e imitação.

Uma das características desse samba é que os participantes se reúnem em um círculo chamado roda. Geralmente, apenas as mulheres dançam. Uma por uma, elas vão se colocando no centro do círculo formado pelos outros dançarinos, que cantam e batem palmas ao seu redor. Essa coreografia frequentemente improvisada se baseia nos movimentos dos pés, das pernas e dos quadris.

Um dos movimentos mais característicos é a famosa umbigada (movimento de umbigo), de origem banto, pelo qual a dançarina convida quem vai sucedê-la no centro do círculo. Existem outros detalhes específicos, como canções típicas, o passo de dança chamado miudinho, a utilização de instrumentos raspados e a viola machete, um tipo de viola pequena, originária de Portugal, e canções.

A influência dos meios de comunicação de massa e a competição com a música popular contemporânea contribuíram para que este Samba fosse desvalorizado aos olhos dos jovens. A idade dos praticantes e a redução do número de artesãos capazes de confeccionar alguns dos instrumentos impuseram mais uma ameaça à transmissão dessa tradição.

2011 - Yaokwa, ritual do povo enawene nawe para a manutenção da ordem social e cósmica

Inscrito na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial que Requer Medidas Urgentes de Salvaguarda em 2011.

Os enawene nawe vivem às margens do Rio Juruena, nas florestas fluviais da Amazônia meridional. Todos os anos, na estação seca, eles realizam o ritual Yaokwa, para prestar homenagem aos espíritos e garantir a manutenção da ordem cósmica e da ordem social entre seus diferentes clãs. Esse ritual relaciona a biodiversidade local a uma complexa cosmologia simbólica, as quais se entrelaçam em âmbitos distintos, mas inseparáveis, da sociedade, da cultura e da natureza.

O ritual faz parte da vida cotidiana dos enawene nawe e se prolonga por um período de sete meses, durante o qual os clãs assumem diferentes atividades por turno: um grupo empreende expedições pesqueiras por todo o território, enquanto outro prepara oferendas de sal gema, pescado e comidas rituais para os espíritos, além de interpretar músicas e danças. O ritual combina os conhecimentos teóricos e práticos sobre a agricultura, o tratamento de alimentos, o artesanato (confecção de indumentárias, utensílios e instrumentos musicais) e a construção de casas e diques para a pesca.

Como o Yaokwa e a biodiversidade local se baseiam em um ecossistema muito frágil, a continuidade do ritual e da biodiversidade depende diretamente da conservação do ecossistema. Por isso, tanto o ritual como a diversidade estão gravemente ameaçados pelo desmatamento e por uma série de práticas invasivas: a exploração intensiva da extração de minérios e madeira, a pecuária extensiva, a contaminação da água, a deterioração do curso superior dos rios, a urbanização descontrolada, a abertura de vias terrestres e fluviais, a construção de diques, a drenagem e o desvio dos rios, a queima de florestas, a pesca furtiva e o comércio ilícito de espécies silvestres.

2012 - Frevo: arte do espetáculo do carnaval de Recife

O Frevo é uma expressão artística de música e dança, praticada principalmente durante o carnaval de Recife, capital do estado de Pernambuco. O ritmo frenético e potente de sua música, executada por bandas militares e charangas, baseia-se na fusão de gêneros como a marcha, o tango brasileiro, a contradança, a polca e a música clássica.

A música é essencialmente urbana e igual ao passo – a dança que a acompanha –, sendo também dinâmica e subversiva. A dança tem suas origens na destreza e na agilidade dos lutadores de capoeira, que improvisam seus saltos ao som eletrizante das orquestras e bandas de instrumentos de metal.

Os praticantes do Frevo e do seu passo são membros de associações que participam dos desfiles de carnaval. Nas sedes dessas associações, é oferecido apoio para preservar, transmitir e desenvolver competências e conhecimentos relacionados ao Frevo.

Esse elemento do Patrimônio Cultural também está estreitamente vinculado às crenças e ao universo simbólico da religião de quem o pratica. Várias associações adotam como distintivos as cores relacionadas à fé religiosa de seus membros, e alguns dos ornamentos utilizados também têm um significado religioso.

O Frevo é resultado da criatividade e da riqueza cultural, produzido por uma combinação excepcional da música, da dança, da capoeira, do artesanato e de outros elementos que manifestam a inteligência e a capacidade de criação de quem o pratica. Essa capacidade de fomentar a criatividade humana e o respeito pela diversidade das expressões culturais são inerentes ao Frevo.

2013 - Círio de Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré na cidade de Belém (Estado do Pará)

As festividades do Círio de Nazaré se iniciam todos os anos no mês de agosto, e seu ponto culminante é a grande procissão celebrada em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, no segundo domingo de outubro, com o transporte de uma imagem de madeira da Virgem Maria da Catedral da Sé até a praça do Santuário de Nazaré, na cidade de Belém do Pará.

Depois desse ato religioso, as festividades se prolongam por mais duas semanas. Praticamente todas as cidades vizinhas participam da procissão, e grandes multidões de peregrinos de todo o Brasil vão a Belém participar dessa concentração religiosa, que é uma das maiores do mundo.

As festividades abrangem vários elementos que refletem o caráter multicultural da sociedade brasileira: práticas culturais e culinárias tradicionais da Amazônia e objetos artesanais, como os brinquedos fabricados com diversos tipos de madeira local.

A combinação do sagrado e do profano faz com que esse evento religioso também apresente facetas estéticas, turísticas, sociais e culturais. O uso de barcos na procissão tem um caráter simbólico, uma vez que Nossa Senhora de Nazaré é a santa padroeira dos marinheiros. Os fiéis constroem altares em casas, tendas, bares, mercados e edifícios públicos em toda a cidade.

 A transmissão dessa prática cultural tradicional se realiza no seio das famílias, quando os pais assistem aos festejos acompanhados de seus filhos pequenos e adolescentes. Para muitos, a festividade do Círio de Nazaré é uma ocasião para retornar à casa e se reunir com a família, enquanto para outros é uma oportunidade para organizar manifestações políticas.

2014 - Roda de Capoeira

A Roda de Capoeira é uma manifestação cultural afro-brasileira – simultaneamente, uma luta e uma dança –, que pode ser interpretada como uma tradição, um esporte e até mesmo uma arte. Os capoeiristas formam um círculo, uma roda e, ao centro, dois deles “jogam” a capoeira, cujos movimentos requerem grande destreza corporal. Os outros jogadores, em volta do círculo, cantam, batem palmas e tocam instrumentos de percussão.

As rodas de capoeira são formadas por grupos de pessoas de todos os gêneros, e contam com um mestre, um contramestre e discípulos. O mestre é o portador e o guardião do conhecimento da roda, e deve ensinar o repertório, manter a coesão do grupo e sua observância a um código de ritual. Normalmente, o mestre toca o berimbau, instrumento de percussão com apenas uma corda. Ele inicia os cantos e conduz o tempo e o ritmo do jogo. Todos os participantes devem saber o que fazer e como tocar o instrumento, cantar e compartilhar as letras dos cantos, improvisar as músicas, conhecer e respeitar os códigos de ética e conduta, além de executar os movimentos, os passos e os golpes. A roda de capoeira é um lugar onde o conhecimento e as habilidades são aprendidas por observação e imitação. Também funciona como uma afirmação de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos, além de promover a integração social e preservar a memória da resistência à opressão histórica.

2019 - Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão

O Bumba Meu Boi é um rito cultural que envolve formas de expressão musical, coreografia, representação e brincadeira. A prática é fortemente carregada de simbolismo. Ela reproduz o ciclo da vida, oferecendo uma metáfora para a própria existência humana. A cada ano, os grupos envolvidos na prática reinventam essa celebração, recriando canções, sátiras, figurinos e bordados para a ocasião. Culminando no final de junho, o ciclo do festival envolve inúmeras manifestações, incluindo apresentações públicas e rituais em torno da morte de um boi. É um período considerado de renovação, no qual as energias são revigoradas.

A prática apresenta certos elementos distintivos principais: o ciclo da vida; o universo místico-religioso; e o próprio boi. A prática está fortemente carregada de simbolismo: ao reproduzir o ciclo de nascimento, vida e morte, oferece uma metáfora para a própria existência humana. Existem formas de expressão semelhantes em outros estados brasileiros, mas no Maranhão o Bumba-meu-boi se distingue pelos vários estilos e grupos que inclui, bem como pela relação intrínseca entre fé, festa e arte.

A cada ano, os grupos de Bumba do Maranhão reinventam essa comemoração, criando canções, comédias, bordados no couro de boi e figurinos dos artistas. Divididos em cinco "sotaques" principais com características específicas, os grupos, embora diversos, compartilham um calendário anual de performances e festividades.

O ciclo do festival - que atinge seu auge no final de junho - pode durar de quatro a oito meses, envolvendo as seguintes etapas: ensaios; a pré-temporada; batismos; apresentações públicas ou 'brincadas'; e rituais em torno da morte do boi. A prática é um período de renovação durante o qual as energias são revigoradas e é transmitida através de grupos de crianças, oficinas de dança e espontaneamente dentro do grupo.