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Os chineses que vivem no exterior: uma longa história

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No trem F, metrô da cidade de Nova York, 1982.

A China, depois da Índia e do México, responde pelo maior número de pessoas que deixaram seus países de origem para migrar para outros lugares. A história da imigração chinesa, marcada por ondas sucessivas, remonta ao início da antiga Rota da Seda marítima. 

Zhuang Guotu
Professor titular na Universidade Huaqiao e professor da Universidade Xiamen, na província de Fujian, na China. Sua pesquisa centra-se na história da China étnica e na história das relações internacionais do país. É também membro do comitê de conselheiros do Conselho de Estado para Assuntos Chineses Ultramarinos.

Atualmente, mais de 10,7 milhões de chineses vivem no exterior – cerca de 60 milhões, se forem incluídos seus descendentes – segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).  

Esse é um dos mais elevados índices de imigração em todo o mundo. No entanto, a história da migração chinesa é antiga. Teve início com a abertura da Rota da Seda marítima, há mais de 2 mil anos, com imigrantes se deslocando principalmente para o Sudeste Asiático. No início do século XV, foram estabelecidas em Sumatra e Java (atual Indonésia) várias Chinatowns – cada uma delas acolhendo milhares de chineses no exterior. 

Porém, foi no final do século XVI que se iniciou a migração em grande escala. Enquanto isso, os europeus haviam se estabelecido no Extremo Oriente com a intenção de integrar a região à rede mundial de comércio. Eles competiam entre si para expandir e desenvolver as colônias no Sudeste Asiático, criando uma demanda por comerciantes e trabalhadores chineses.

No início do século XVII, havia cerca de 100 mil chineses no Sudeste Asiático e entre 20 mil e 30 mil no Japão, pessoas envolvidas principalmente no comércio e no artesanato. Em meados do século XIX, seu número havia aumentado para 1,5 milhão, com a maioria deles estabelecidos no Sudeste Asiático. No Japão, eles se integraram à sociedade nacional.

O impacto das Guerras do Ópio

De meados do século XIX até o início da década de 1940, uma segunda onda de migração teve início na China. Trabalhadores não qualificados, os chamados “peões contratados da China”, formaram a maior parte dessa onda. Durante as duas Guerras do Ópio, na metade do século XIX, a Grã-Bretanha e a França forçaram o governo Qing a autorizar um êxodo maciço de trabalhadores chineses para os países ocidentais e suas colônias, para substituir os escravos negros. Esse foi o início da dispersão dos chineses pelo mundo – do Sudeste Asiático para as Américas, África, Europa e Austrália.

Após a Primeira Guerra Mundial e antes do início da Segunda Guerra no Pacífico, a prosperidade econômica do Sudeste Asiático estimulou ainda mais a demanda por mão de obra, a qual foi atendida por imigrantes chineses. No início da década de 1940, havia cerca de 8,5 milhões de expatriados chineses em todo o mundo – mais de 90% deles no Sudeste Asiático. 

A partir de 1949, quando foi fundada a República Popular da China, até o final da década de 1970, a migração em grande escala deixou de ser permitida. A maré de imigração chinesa no exterior, que havia se prologado por mais de 300 anos, foi interrompida. 

Uma terceira onda de novos migrantes chineses começou na década de 1980 e foi parte integrante da onda de migração mundial. A maior parte dos migrantes veio da China continental, mas também de Taiwan e Hong Kong. Eles se mudaram principalmente para países industrializados – na época, o principal destino dos chineses no exterior eram os Estados Unidos. 

A partir da década de 1980, os migrantes chineses se direcionavam principalmente para países industrializados

O rápido crescimento econômico da China e o desenvolvimento das relações comerciais exteriores nos últimos anos fizeram com que muitos chineses se mudassem para países em desenvolvimento. A população de migrantes chineses aumentou muito na Ásia Central e Ocidental, na África e na América Latina.

Construção de ferrovias e extração de ouro 

Os chineses no exterior realizaram contribuições significativas para suas novas sociedades. Seja nos países tropicais do Sudeste Asiático ou nas nações temperadas da Europa e das Américas, eles foram pioneiros na construção de estradas e na ocupação de terras no Sudeste Asiático do século XVIII. Construíram portos e cidades; extraíram ouro nos Estados Unidos do século XIX; construíram ferrovias e abriram restaurantes e mercearias na Europa do século XX.

Com uma tradição de frugalidade e trabalho árduo, os migrantes chineses tendem a conquistar seu lugar na sociedade poupando seus rendimentos e investindo em propriedades, a fim de se protegerem das dificuldades econômicas. Dessa forma, quando surge uma crise, invariavelmente eles são capazes de cuidar de si mesmos antes de buscar a ajuda de familiares e amigos – sem contar da nova sociedade em que vivem. 

Os chineses que vivem no exterior continuam a ter fortes laços com seu país de origem. Acreditam que a China é a sua pátria – um vínculo que geralmente perdura por gerações. Uma das principais razões pelas quais migram é para poder ajudar suas famílias e amigos – eles têm uma cultura de realizar remessas para ajudar financeiramente aqueles que estão em casa. Por quase um século, a diáspora chinesa também tem participado da modernização da China. Desde a década de 1980, mais de dois terços dos investimentos estrangeiros aceitos pelo governo chinês provêm de expatriados.

Características e estereótipos

Os chineses que vivem no exterior têm a reputação de serem trabalhadores e parcimoniosos. Outro traço distintivo da diáspora pelo mundo é a importância que atribuem à educação da próxima geração. Uma antiga crença chinesa diz que “todo trabalho é inferior, apenas a leitura é superior”. Sejam ricas ou pobres, as famílias chinesas no exterior estão dispostas a fazer sacrifícios para assegurar que seus filhos recebam a melhor educação possível. 

A distinctive trait of the Chinese diaspora worldwide is the importance they place on educating the next generation

Por vezes, essas características têm alimentado percepções estereotipadas das comunidades de imigrantes chineses, o que amplia ainda mais o abismo entre elas e outros grupos sociais em seus países de destino.

No entanto, é difícil fazer generalizações sobre um grupo tão grande de migrantes. Em um mundo globalizado, no qual as culturas estão em constante comunicação, qualquer tentativa de rotular certos grupos de pessoas é restritiva e irracional. Os chineses que vivem no exterior continuaram a explorar e construir suas identidades neste mundo cada vez mais integrado. 

No contexto da pandemia da COVID-19, quando explodiu a discriminação contra pessoas de ascendência asiática, esses desafios não podem ser resolvidos da noite para o dia. Porém, ao longo dos séculos, os chineses que vivem no exterior desenvolveram uma resiliência a tais estereótipos, o que pode ser útil ao enfrentar esses desafios. 

Leia mais:

Relatório de Monitoramento Global da Educação, resumo, 2019: migração, deslocamento e educação: construir pontes, não murosUNESCO, 2019
Um professor traz esperança a um remoto vilarejo chinês, O Correio da UNESCO, out./dez. 2019

 

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