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Pesquisa pública "O mundo em 2030": mudança climática e perda da biodiversidade são, de longe, as maiores preocupações; o multilateralismo e a educação são as soluções mais importantes

31/12/2020

Estão aqui os resultados da pesquisa pública da UNESCO O mundo em 2030, realizada de maio a setembro deste ano. Uma chamada inclusiva internacional por insumos lançada pela Unidade de Apoio à Transformação Estratégica, a pesquisa atraiu respostas de mais de 15 mil pessoas do mundo todo. Os resultados já estão fundamentando as reflexões da UNESCO para garantir que seus programas respondam às necessidades do mundo real de cidadãos de todo o mundo ao longo das próximas décadas.

Em um momento de perturbações em massa ligadas à pandemia da COVID-19, nosso objetivo foi ouvir os desafios enfrentados por pessoas de todo o mundo, e elas falaram conosco em alto e bom som. É extremamente importante que nossos programas enfrentem a mudança climática, reduzam a violência e promovam a igualdade, especialmente por meio da educação. No entanto, são necessários maiores esforços para abordar as preocupações específicas das pessoas, e o multilateralismo é a maneira de se fazer isso. Restaurar a confiança no multilateralismo requer a implementação de projetos concretos e com impacto real, e isso está no cerne do papel de nossa Organização.

Audrey Azoulay - diretora-geral da UNESCO


© UNESCO

As pessoas que responderam à pesquisa assim definiram os quatro maiores desafios que as sociedades pacíficas enfrentarão até 2030: mudança climática e perda da biodiversidade, violência e conflitos, discriminação e desigualdade, além da falta de alimentos, água e moradia. A educação, em suas várias formas, apareceu no topo como a solução essencial para muitas das dificuldades que nós enfrentamos. Embora as pessoas exaltem de forma esmagadora a importância da cooperação mundial, muito poucos têm confiança de que o mundo pode superar seus desafios comuns com eficácia.

A mudança climática e a perda da biodiversidade são as preocupações mais cruciais desta década para as sociedades pacíficas.


© UNESCO

É maior do que nunca a conscientização internacional sobre as ameaças representadas pela mudança climática e pela perda da biodiversidade. As crises surgem nos âmbitos global, regional e local, e a cooperação internacional será vital para conter as tendências atuais. 

Isso se refletiu nos resultados da pesquisa, com a sinalização da maioria dos entrevistados de que este desafio seria o mais urgente, ao impactar as populações tanto no âmbito local como no internacional. As pessoas estão mais preocupadas com o aumento dos desastres naturais, as condições meteorológicas extremas, a perda da biodiversidade, o risco de conflitos ou violência, os impactos nos oceanos e, essencialmente, cada vez com menos esperança de resolver esses problemas.

Para lidar com esses desafios, os entrevistados priorizaram os investimentos em soluções verdes, a educação em sustentabilidade, a cooperação internacional e a confiança na ciência. Esses resultados indicam que o trabalho da UNESCO nas áreas de mudança climática e biodiversidade, bem como em redução do risco de desastreseducação para o desenvolvimento sustentável, saúde do oceano e ciência aberta são ferramentas valiosas na luta contra a mudança climática e a perda da biodiversidade.

Inovação e aprendizagem são essenciais para combater a violência, a desigualdade e as privações

Outros desafios principais que as pessoas indicaram como importantes incluem:

  • Violência e conflitos: os entrevistados demonstraram preocupação quanto à radicalização e ao terrorismo, quanto ao risco de um conflito mundial e armas nucleares, e quanto à violência contra as minorias e os grupos mais vulneráveis. Mundialmente, a violência contra as mulheres e as meninas apareceu em quarto lugar, mas foi a maior preocupação dos entrevistados da América Latina.
  • Discriminação e desigualdade: as maiores preocupações incluem a violência contra mulheres e minorias, o aumento do discurso de ódio e do assédio online, além da discriminação contra mulheres e pessoas LGBT. Quatro entre dez (38%) disseram sentir que as tensões interculturais e religiosas estão piorando.
  • Falta de alimentos, água e moradia: a maior preocupação, de longe, é a falta de água potável segura, mas os entrevistados também demonstraram preocupação a respeito do impacto dos desastres naturais e da mudança climática, assim como da falta de alimentos saudáveis e de boa qualidade.

Curiosamente, os jovens (com menos de 25 anos) mencionaram com mais frequência suas preocupações com a discriminação e a desigualdade do que os entrevistados de grupos de idade mais avançada. Nessa faixa etária, também há uma maior preocupação com a violência contra mulheres e pessoas LGBT, tendência que foi reiterada nas respostas das mulheres.

Discernir esses padrões ajuda a identificar os desafios que são os mais importantes para o engajamento de jovens, os quais, como futuros líderes da sociedade, foram considerados como o provável grupo-alvo mais importante da pesquisa. Como tal, um esforço considerável foi realizado para envolver os jovens, incluindo a colaboração das redes de jovens da área de ciências humanas e sociais, as Cátedras UNESCO e as Escolas Associadas (Rede ASPNet), assim como a promoção nas redes sociais. O resultado foi que mais da metade das pessoas que responderam à pesquisa têm menos de 35 anos. A pesquisa foi traduzida para 25 línguas, com a ajuda de Comissões Nacionais e Escritórios da UNESCO, que também a disseminaram por meio de suas redes.

Entrevistados de todas as idades pediram por cooperação mundial e marcos de ação legais contra a violência e o discurso de ódio, o apoio a soluções tecnológicas e a associações que trabalham com privações diversas, promoção da igualdade de gênero e respeito por todas as culturas. De forma apropriada, a educação foi novamente considerada a solução principal, com apelos para o ensino da paz, da não violência, da tolerância cultural, dos direitos humanos, da ciência e da tecnologia.

Educação e cooperação mundial são soluções essenciais para muitos dos nossos desafios globais.


© UNESCO

De fato, a educação foi destacada de forma consistente como uma solução, do ensino sobre pensamento crítico, respeito, ética online e alfabetização midiática, até a promoção da saúde, do civismo, do patrimônio e da igualdade de gênero. Isso reflete uma convicção coletiva sobre a importância da educação não apenas como um fim em si mesma, mas como uma solução válida e abrangente para muitos dos nossos variados desafios mundiais. A educação também foi considerada a área da sociedade que mais deverá ser repensada à luz da crise da COVID-19, dando-se os devidos créditos a programas educacionais, como a iniciativa Futuros da Educação.


© UNESCO

Um total de 95% dos entrevistados sentiu que a cooperação mundial é vital para superar os nossos desafios (incluindo 80% dos que disseram que isso é “muito importante”), e a maioria dos que responderam estão preocupados com os impactos dos desafios no mundo como um todo. Embora isso reflita uma forte solidariedade mundial e uma relevância duradoura do multilateralismo, parece haver uma preocupação considerável quanto à sua eficácia, pois apenas um em cada quatro entrevistados se sentindo confiante de que o mundo será capaz de enfrentar seus desafios, incluindo apenas 4% que disseram estar “muito confiantes”.

 

Desafios e lições em tempos de COVID-19

Ao lado da educação e da cooperação mundial, os entrevistados também apontaram a relação entre o ser humano e a natureza, a cooperação científica e o compartilhamento de pesquisas como importantes áreas da sociedade a serem repensadas diante da pandemia.

O surgimento da COVID-19 chamou a atenção de muitos para os vínculos entre a saúde pública e a gestão ambiental, incluindo a propagação de doenças zoonóticas (zoonoses). Da mesma forma, a questão da cooperação científica e do compartilhamento de pesquisas, que a UNESCO está abordando com o desenvolvimento de uma nova Recomendação sobre Ciência Aberta  e um apelo conjunto pela ciência aberta, se tornou mais relevante, uma vez que cientistas de todo o mundo compartilham conhecimentos sobre o vírus, ao mesmo tempo em que continua a busca mundial por uma vacina.

A crise da COVID-19 também destacou a importância para muitos da cooperação internacional em desafios globais: além da saúde e doenças, mudança climática e perda de biodiversidade, migração e mobilidade, e falta de alimentos, água e moradia são apenas três áreas apontadas como aquelas que necessitam de cooperação internacional eficaz. Enquanto se engaja em diversas ações concretas, a resposta da UNESCO à pandemia da COVID-19 também tem prestado atenção especificamente ao fortalecimento da cooperação internacional – um trabalho que deve continuar se se quiser restaurar a confiança no sistema multilateral para tratar desses grandes desafios.

Vários problemas destacados pela pandemia também se refletiram nas preocupações dos entrevistados sobre saúde e doenças, desinformação e liberdade de expressão, falta de oportunidades e trabalho decente, e participação política e princípios democráticos. Saúde e doenças foi um desafio classificado em primeiro lugar pelos entrevistados da Ásia e por aqueles que se identificaram como indígenas, ficando em segundo lugar no geral. As pessoas citaram preocupações sobre a confiabilidade das informações e a disseminação deliberada de falsidades, liderança fraca, corrupção e falta de responsabilidade política, ataques à mídia, sistemas educacionais inadequados, desigualdade no mercado de trabalho e o declínio mundial da democracia. Além das que já foram discutidas, as soluções incluem o apoio ao jornalismo de qualidade e a verificação de fatos, bem como punições mais severas e marcos de ação legais mais robustos contra a disseminação da desinformação.

Questões antigas em um contexto contemporâneo: migração, mudança tecnológica e preservação da cultura

Finalmente, também se pediu das pessoas que responderam à pesquisa que dessem um feedback sobre as questões de migração e mobilidade, inteligência artificial e novas tecnologias, além de tradições e culturas em risco. Confrontadas com os desafios da migração e da mobilidade, as pessoas demonstraram maior preocupação com os direitos humanos dos migrantes e dos refugiados, com a reação política em países que recebem migrantes, com o tráfico humano ou a exploração sexual de migrantes, além da mudança climática, que piora ainda mais a situação. Elas pedem por uma coordenação mundial e regional eficaz sobre essas questões, foco no desenvolvimento dos países de origem, respeito pelas culturas e pela diversidade, além de apoio à integração nas comunidades anfitriãs.

Ao considerar os desafios emergentes colocados pela inteligência artificial e por outras novas tecnologias, as pessoas demonstraram mais preocupação com a privacidade e a vigilância online, com as questões éticas, com a guerra cibernética e novas formas de conflitos, bem como com os novos crimes cibernéticos. Elas pediram mais educação sobre ética, segurança e privacidade online, um marco de ação mundial sobre ética, promoção de um foco ético, transparente e humano, além da prevenção de crimes online.

Aqueles que se identificaram como indígenas classificaram os riscos para as tradições e a cultura como os desafios mais importantes do que os outros. Ao lidar com esse desafio, as pessoas estão mais preocupadas com o patrimônio cultural e o desaparecimento das práticas, com a globalização que conduz à perda do patrimônio ou da identidade, com o desinteresse dos jovens por seu patrimônio cultural, e com a falta de apoio às indústrias criativas. Elas pedem por integração da cultura e do patrimônio nos sistemas educacionais, a promoção do intercâmbio cultural e o respeito pela diversidade, o engajamento dos jovens com suas tradições, e a salvaguarda dos sítios e das práticas do patrimônio cultural.

Orientação da direção estratégica da UNESCO para o Mundo em 2030

A pesquisa O mundo em 2030 foi desenvolvida pela Unidade de Apoio à Transformação Estratégica, com o apoio financeiro da Comissão Canadense da UNESCO, com vistas ao enriquecimento das reflexões atuais da UNESCO sobre o futuro de seu programa para o resto da década. Esta reflexão também recebeu o apoio dos resultados de uma pesquisa bem-sucedida realizada com seu pessoal, dos insumos da UNESCO Jovem e do trabalho do Grupo de Reflexão de Alto Nível da diretora-geral. O processo de reflexão é uma parte importante da Transformação Estratégica da Organização, que está entrando em sua fase final. Esse processo irá culminar no próximo ano com a aprovação da Estratégia de Médio Prazo da UNESCO para 2022-2029, um roteiro inestimável para esta década vital que vai até 2030.